Fazer parte da formação de um ser humano é uma responsabilidade muito grande para um professor. Além do ensino, o educador contribui na prática das competências socioemocionais fundamentais para a vida em sociedade e no relacionamento interpessoal. Com uma jornada de trabalho intensa, diante do convívio diário com o estudante, a escola se torna, durante a semana, uma segunda casa para muitos alunos e, por vezes, são os próprios professores que auxiliam os estudantes em diversos aspectos pessoais.
Corda Bamba
Saber lidar com uma separação dos pais, um transtorno ou uma instabilidade emocional são algumas das situações que os educadores enfrentam, pois o que acontece no ambiente familiar reflete no ensino em sala de aula. Recentemente, o Instituto Hexis, responsável pelo programa Bene:) Formação Ética e Socioemocional, recebeu um depoimento de um dos educadores que trabalham com o Bene:) na grade de horários. Professora de Ciências, do Colégio Batista Mineiro – Unidade Uberlândia, Thaís Junqueira compartilhou uma das suas experiências na aula lecionada com o conteúdo do Bene.
Com a programação em dia, teoricamente naquele dia Thaís estava preparada para dar uma aula sobre “Corda bamba”, tema trabalhado dentro dos fatores de personalidade e cuja virtude é “Consciência” (livro do 7° ano do Ensino Fundamental). De acordo com a educadora, a programação prática da atividade era deixar os estudantes em círculo e fazer uma linha no meio referente ao tema.
“O Bene é a oportunidade que temos de exercer o cristianismo e estimular o desenvolvimento de virtudes e as reflexões importantes para mobilizar os sentimentos com relação à consolidação do caráter dos nossos estudantes”, diz.
E quando tudo dá errado
No entanto, a turma estava agitada e não conseguia fazer o proposto. Thaís criou, então, a própria dinâmica. A professora disse que dois alunos entraram em conflito e traziam irritação e má influência aos colegas. Enquanto isso, outro estudante tratava os colegas de forma ríspida e era “fechado” ao relacionamento interpessoal. Uma turma problemática naqueles dias. Diante dos “nervos à flor da pele” dos estudantes, a educadora procurou questioná-los para entender os motivos pelos quais determinados discentes agiam de forma desrespeitosa com os colegas.
“Aprendemos muito uns com os outros. Cada um fala o que sente e sempre temos casos para contar! Quem promove uma lição do Bene deve ter em mente perguntas que se faria diante de cada situação que surge, provocar boas e salutares discussões e, principalmente, acolher e beneficiar o próximo. O Bene forma pessoas. É um instrumento bacana e que nos guia neste sentido”, diz.
Sem deixar de chamar atenção e se posicionar frente à indisciplina dos adolescentes, Thaís perguntou aos estudantes o que estava acontecendo, pediu para darem exemplos de respeito, em voz alta, contudo, houve um silêncio, por parte da turma.
Uma reviravolta
Após este momento, a professora instigou os estudantes a contarem o que têm ocorrido em sala e mobilizou um sentimento de empatia, entre eles. Houve choro ao abrir o coração aos colegas, pois eram pais que estavam se separando, conflitos internos que estavam causando dor, ausência de amigos, sentimento de tristeza que causavam todas as divergências provocadas em sala. “Uma vez que entendemos o valor que este trabalho tem, o caminho é sem volta. Temos a responsabilidade de viver isso intensamente.
Quem se beneficia? Todos. O que promovemos? A construção do caráter. E o que sinto? A vida e seu curso pleno correr como um rio generoso que a todos refresca e alimenta”, completa.
Aliviados depois de falar a respeito de certos desconfortos, os estudantes pediram perdão uns aos outros, se abraçaram e um estudante elaborou o conceito da palavra “respeito” conforme o entendimento dele. “’Respeito é tratar ao próximo como ele gostaria de ser tratado, significar ao próximo tanto que não é nem mesmo necessário palavras para auxiliá-lo. Conseguir entender o outro, mesmo que ele não peça por isso’”, citou Thais.
O mesmo estudante que conceituou a palavra abraçou a professora e verbalizou a felicidade de estar na escola e de se sentir acolhido:
“Você foi a primeira professora da minha vida que me ensinou de verdade sobre os valores”.
Segundo Thaís, foi maravilhoso ver o que estava acontecendo e até ela chorou diante daquele momento inesperado. “Uma estrada segura. Um porto com destino. A ética como diretriz e o amor como guia. Sou muito feliz em fazer parte deste investimento! E viva o Bene!”, fala.
Para Meire Mello, coordenadora pedagógica, o programa é parte importante do ensino do Batista. “O programa Bene é a cereja do bolo do Colégio Batista e de qualquer outra escola que tem o compromisso em trabalhar o socioemocional, independentemente da solicitação da BNCC. O Colégio já tinha essa missão, e nós só organizamos tudo”, acrescenta.
Com 28 anos de experiência em sala de aula, Thaís diz que ver tudo o quetinha acontecido, os corações arrependidos, a gratidão, o amor de uns pelos outros, pensar no outro, não tem preço. Arelembrar aquele momento, ela voltou a chorar e a pensar na sua profissão com muito amor e carinho. E considerou pensar nos estudantes como filhos, filhos da sua alma.