Quando falamos em Projeto de Vida segundo nos aponta a BNCC – Base Nacional Comum curricular – pensamos em como um estudante projeta para a futuro seus sonhos e desejos ou, em outras palavras, como ele se imagina daqui a algum tempo em que esses mesmos sonhos e desejos possam se transformar em realidade. No entanto, é preciso esclarecer que os sonhos que sonhamos ou os desejos que alimentamos ao longo da vida não surgem em nós por acaso. Desde que nascemos recebemos influências que, de um lado, são intrínsecas, no sentido de que brotam em nós a partir da herança genética que recebemos de nossos antepassados e; de outro, extrínsecas, porque correspondem a tudo aquilo que assimilamos tanto da estrutura da família como da escola.
Essas influências que recebemos são responsáveis pelo olhar com que olhamos tudo à nossa volta. Falamos aqui de cosmovisão, como nos sugere o original alemão dessa expressão a palavra Weltanschauung. Ela se refere a um conjunto ordenado de valores, crenças, impressões, sentimentos e concepções de natureza intuitiva anteriores à reflexão, a respeito de uma época ou do mundo em que se vive. Ela se torna, progressivamente, na orientação cognitiva fundamental de um indivíduo, de uma coletividade ou de toda uma sociedade, num dado espaço-tempo e cultura, a respeito de tudo o que existe – sua gênese, sua natureza, suas propriedades. É o olhar com que se olha a realidade ou o modo como a interpretamos.
Quando falamos de Projeto de vida estamos, na pratica, nos referindo a um processo de construção dessa nossa cosmovisão. É que ela se forma em nós a partir do que nos constitui como pessoas desde aspectos biológicos a tudo o que apreendemos de nossa estrutura familiar, das escolas que frequentamos, da cultura na qual estamos inseridos. A reunião desses elementos em um Projeto de Vida nos permite planejar o futuro, estabelecer metas mais claras a serem alcançadas, dar forma aos nossos sonhos.
Tudo isso implica em uma consciência que deve se ampliar cada vez mais na medida em que percorrermos o ciclo da existência. Isso permitiria assumirmos nossa responsabilidade em termos de uma atuação social marcada por uma descoberta crescente de quem somos, da importância das relações que estabelecemos tanto com os outros como com o meio em que habitamos. Isso nos conduziria, certamente, a um posicionamento mais crítico quanto às desigualdades sociais, étnicas e de gênero. Perceberíamos assim, com mais clareza, as diversas formas de ser e de viver desenvolvendo maior respeito por aqueles que são diferentes de nós mesmos.
Tudo isso é muito importante, mas faria sentido para um estudante do Fundamental II? A resposta a essa questão é afirmativa. Convidar o adolescente a refletir sobre quem é, porque existe e para onde caminha é um meio para ajudá-lo a conhecer melhor a si mesmo especialmente em uma área que lhe é muito cara, a construção de sua identidade pessoal, objeto natural de questionamento nessa etapa da vida. No entanto, não se trata apenas de autoconhecimento. Em um Projeto de Vida, o adolescente é também convidado a superar os determinismos geográficos e biológicos que, em certas circunstâncias, pode fazê-lo se sentir sem perspectivas, impossibilitados de querer um pouco mais como se fosse vedado a ele/ela o direito de sonhar.
Por mais que o adolescente do Fundamental II se sinta profundamente mobilizado pelas mudanças do seu corpo, pela necessidade de ser aceito, por uma certa sensação de perda pela infância que começa a deixar para trás, se envolver com as questões próprias de um Projeto de vida pode alça-lo à condição de, em momentos certamente preciosos, começar a enxergar a realidade em perspectiva mais crítica, perceber melhor os outros e se abrir para uma vida mais rica, mais produtiva e, certamente, mais feliz.
Pastor Rubens Eduardo Cordeiro
Capelão Geral da Rede Batista de Educação
