Natalie Cole é o que se poderia chamar um talento natural para cantar. Ela foi, não só cantora, mas também compositora e pianista. Aclamadíssima pela crítica mundial por sua harmônica e extensa voz mezzosoprano, vendeu mais de 100 milhões de discos e ganhou nove prêmios Grammy Awards, indiscutivelmente um grande feito.
Um dos momentos mais especiais de sua carreira foi quando, em um show de 2009, ela convidou seu pai Nat King Cole, falecido em 1965, para cantar junto com ela a belíssima canção Unforgettable. Ao apresentar o seu pai, ela assim se expressou: “eu gostaria de chamar alguém para me acompanhar na próxima música, alguém que certamente não precisa de nenhuma apresentação, porque a primeira palavra já diz tudo: “Unforgettable”, inesquecível. Durante essa apresentação, imagens dos seus tempos de menina junto ao seu pai iam aparecendo em um telão.
Nat King Cole marcou época como um dos maiores cantores norte-americanos de todos os tempos, tendo imortalizado, com sua marcante voz, canções como a própria Unforgettable, Monalisa, Nature Boy, Too Young e milhares de outras. No final dessa memorável apresentação, Natalie se dirigindo à imagem do pai estampada no telão, disse: “Thanks Daddy”, obrigado Papai. Mas, afinal, o que é que torna um pai inesquecível?
A melhor resposta para essa indagação a encontramos na Parábola do Filho Pródigo. Um dia um filho aproximou do seu Pai e disse a ele que queria partir. Reivindicou “em espécie” a parte da fazenda que lhe cabia e saiu pelo mundo afora. Há um momento na vida em que os filhos, às vezes, contra a vontade dos pais, resolvem seguir outros caminhos, alguns bem tortuosos. Foi assim com aquele jovem. Desceu ao submundo. Andou pelos lugares mais tristes que se possa imaginar. Acumulou decepções e mágoas, uma atrás da outra. Até que um dia, em um momento de sentida reflexão, disse: “Quantos trabalhadores de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus trabalhadores” (Lucas 15: 17-19). Uma característica de Pai inesquecível é, sem dúvida, uma memória que registra com detalhe os acontecimentos de sua relação com o filho.
Quando esse Pai percebeu que o filho vinha andando pelo caminho, se moveu de íntima compaixão. É provável que naquele momento a memória de sua relação com aquele filho tenha sido reavivada como um filme, “e, correndo, lançou-se ao se pescoço e o beijou” (Lucas 15: 20).
Um Pai se torna inesquecível quando acolhe, se torna próximo quando abraça, se torna amigo quando se assenta com o filho para trocar ideias. Quando questionado pelo seu filho mais velho a respeito do porquê de tanta festa para um ingrato e desalmado, esse Pai revelou mais uma característica de um Pai inesquecível: a capacidade de ver, por detrás das muitas feridas que marcavam de forma absolutamente triste a vida do seu filho pródigo, a possibilidade de mudança, de renovação. Que um novo horizonte de existência que se abria naquele momento. Então, Ele respondeu ao filho mais velho: “Mas era justo alegrarmo-nos e regozijarmo-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado” (Lucas 15: 32).
Então, o que é que faz de um pai um pai inesquecível? Saibam todos que não é o poder que esse pai por ventura possua, ou as muitas riquezas materiais, ou os muitos títulos que obtenha pela vida afora. O que torna um pai inesquecível é o conjunto de memórias da sua relação com seus filhos que guarda em seu coração. E não somente isso, mas as lembranças que ficam registradas nas almas dos seus filhos pela sua presença amiga, pelo companheirismo, pela amizade.
O que torna um pai inesquecível é sua capacidade de se mover de íntima compaixão pelas desditas e também pelas vitórias alcançadas por seus filhos. Um pai se torna inesquecível quando, movido pelo amor que sente pelos seus filhos, enxerga neles novas possibilidades de irem adiante, de superação, quando tudo parece apontar na direção oposta. Um pai se torna inesquecível, como nosso Pai Celestial, quando abre mão dos seus bens mais preciosos, para que seus filhos se salvem dos pecados, desenganos, das tristezas e das mágoas dessa vida, de tal modo a encontrarem em Cristo o caminho da vida feliz, da vida que se renova, da vida que faz sentido. A esse Pai inesquecível podemos, certamente dizer: “Thanks Daddy”, obrigado Papai.
Rubens Eduardo Cordeiro
Psicólogo, Teólogo, Autor e Pesquisador do Programa BENE