Se a pandemia COVID19 servirá às provas, uma delas será sobre a ética. Ética para Kant, em sua busca por um modelo que fosse científico, contou com a elaboração de um “imperativo categórico” ou uma espécie de bússola moral, que pudesse analisar o que motiva a ação humana: “fazer o que gostaria que lhe fizessem” ou “fazer o que gostaria que todos fizessem com todos”.
Com ela seria possível uma ordem interior ao indivíduo, que se guiaria não somente por normas externas, mas com uma conduta consciente, que proporcionaria o bem comum. O bem a todos.
E acrescenta, é “agir com base no dever”, ou seja, fazer por vontade própria, livre de outros interesses, mas com o fim em si mesmo. Assim, haveria humanidade!
Aplicando essa máxima kantiana ao contexto de pandemia, segue-se a pergunta se o uso de máscaras de proteção e outras medidas, como o afastamento social e o uso de álcool 70%, não poderia ser um indicador da moral do sujeito, ou da ética de uma comunidade, de um coletivo. Afinal, o uso desses protocolos de biossegurança não somente protege o sujeito, mas também ao seu primeiro próximo, àquele que esteve junto a ele num comércio, empresa, igreja ou escola.
E a vacina será a prova final! As vacinas, sejam elas quais forem, se incumbirão da imunização progressiva das pessoas, mas não garantem que as isentarão de contaminar, é como entende a classe médica. Essa cláusula, que pode parecer mais nota de rodapé, será o teste do imperativo moral de Kant.
Saber se aquele que estiver imunizado pela vacina continuará a se atentar ao cumprimento das medidas de segurança será o mesmo que reconhecer a moral desse sujeito ou o quanto ele pensa e age sobre o que gostaria que todos fizessem a todos. Afinal, pressupõe-se que a vacina já o terá protegido, mas bastará saber se essa pessoa que, já segura de sintomas graves ou internação médica, considerará o seu próximo, a sua humanidade, uma vez que, mesmo que nem apresente sintomas, se contaminada pelo vírus, poderá ainda transmitir o COVID19 aos demais, com agravo aos não vacinados.
Em resumo, seria dizer que a vacina não isenta o imunizado de contaminar outras pessoas, o que significa que deverá, portanto, continuar a se atentar às orientações médicas do afastamento social, uso de máscaras e uso de álcool para não contribuir na proliferação dos vírus aos que ainda não se vacinaram. E isso levará tempo, por serem muitos. E fazer isso é ético, por promover o bem comum.
Assim, os posts de mídia social que clamam pela vacina, como uma espécie de liberação das pessoas de todo esse rigor e falta de abraços e presenças, podem parecer que estão desconsiderando essas necessidades de prolongamento de proteção pessoal, enquanto a população recebe a imunização.
Com tudo isso é possível inferir que ensinar, no sentido de disponibilizar saberes e valores, nos faz afirmar que não há nada mais pertinente a um currículo escolar, do que um currículo da ética.
Lilian Neves